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Como a privatização dos Correios pode impactar as vendas on-line

Panorama da privatização dos Correios e o e-commerce no Brasil

Uma das maiores estatais do Brasil está prestes a ser privatizada, deixando questões políticas à parte, vale pensar nos impactos que esta medida pode trazer para o consumidor.

Apesar de polêmico, este é um tema também de vital importância para todo o ecossistema de vendas on-line, isto porque estamos falando do principal pilar do comércio eletrônico brasileiro.

É preciso deixar claro que os Correios não tem monopólio na entrega de encomendas e concorre diretamente com inúmeras empresas privadas, hoje o monopólio dos Correios se restringe a correspondências e entrega de malotes, que inclusive hoje estão protegidos pela Constituição. Sendo assim, não há nada que impeça a entrada de novos players na entrega de produtos. Inclusive, o Mercado Livre que é um dos maiores marketplaces do mercado está criando seus próprios  centros de distribuição, investindo em frota própria que contempla inclusive a aquisição de um avião para uso exclusivo da sua logística.

A segurança nacional é uma das principais razões para o monopólio de cartas e telegramas dos Correios. Apesar de poucas pessoas hoje em dia utilizarem esse tipo de serviço, ele ainda é fundamental para a comunicação militar e dos detentos com seus familiares.

Os Correios contam hoje com mais de 100 mil funcionários, é o maior operador logístico da américa latina e um dos maiores do mundo , alcança 5.570 municípios brasileiros, e neste momento é seguro dizer que não existe um concorrente com toda esta capilaridade, sendo comum “concorrentes” utilizarem seus serviços para cidades mais longínquas  e com pouco fluxo postal.

Um dado relevante fornecido pelo  sindicato dos trabalhadores dos correios no Rio Grande do Sul, indica que  mais de 90% de tudo que os correios arrecada são gerados em 397 municípios, portando a grande maioria dos municípios são deficitários e só são atendido em razão do subsídio cruzado. Outro fato importante é de que os correios ao contrário do que muitos imaginam, não vem dando prejuízo nos últimos anos.

A estatal é amada e odiada por muitos brasileiros, afinal de contas os Correios possuem os preços mais competitivos no mercado e sua cobertura abrange todo o território nacional (inclusive no interior), em regiões de pouco interesse das empresas privadas. Diversas transportadoras subcontratam os Correios para fazer a entrega no trecho final de seus destinatários, principalmente em áreas mais afastadas. 

Entre os 5.571 municípios brasileiros (incluindo os Distrito Federal), somente cerca de 200 deles geram lucros na operação de logística, e todo o restante dá prejuízo. Será que uma empresa privada assumiria essa operação de forma que garanta o recebimento das entregas nesses locais? Afinal de contas, isso significa que 95% de sua operação não é lucrativa, porém democrática e de necessidade pública.

Alguns marketplaces como o Mercado Livre, Magazine Luiza, B2W e Via vêm investindo fortemente em alternativas para o envio de seus produtos, muita das vezes utilizando o fulfillment (Armazenamento e entrega dos produtos) como o Mercado Envios Full. Essas são excelentes estratégias que visam diminuir o tempo de entrega e agregar valor ao lojista e ao cliente final.

Veja abaixo o vídeo publicado pelo Ministério da Economia do Brasil:

https://www.youtube.com/watch?v=GuVoIyfeLno

Você sabia que países como EUA, Rússia e Canadá têm suas Estatais de correspondências?

Os EUA, o símbolo do capitalismo mundial possuem a United States Postal Service (USPS). uma empresa com mais de 630 mil funcionários, que foi fundada em 1775, hoje é a única empresa de entregas a oferecer os serviços em todos os pontos do país.

O principal motivo para que os Estados Unidos e outros países não tenham privatizado completamente o serviço postal ou até mesmo desistido, é a questão da segurança nas comunicações militares e provavelmente será um dos argumentos mais fortes de defesa entre aqueles que se opõem à ideia da privatização. 

Outros países continentais como Rússia e Canadá , mantêm seus serviços postais sob tutela do Estado,  como são  países muito grandes e com áreas de difícil acesso, difícil de fazer o controle dessa entrega em regiões longínquas. Essa é uma outra razão para manter um serviço público. E em países ricos, menores, o setor privado consegue fazer um  trabalho de maior qualidade.

Países como Alemanha, Portugal e Argentina, privatizaram seus correios, na Alemanha o resultado foi positivo, já em Portugal e Argentina as coisas não saíram como esperado e hoje já se discute a Estatização novamente dos serviços, por outro lado o País mais capitalista do mundo segue firme com seus serviço postal estatal, assim como a Rússia, outra País continental que segue com controle total do governo.

Mas afinal a Privatização dos Correios vale a pena?

Caso a privatização não seja bem conduzida poderá trazer prejuízos enormes para nosso ecossistema, isto porque a empresa ganhadora, pode se concentrar em melhorar os serviços nos grandes centros e simplesmente não investir em cidades menores fora dos grandes centros, isto certamente vai limitar o crescimento do e-commerce e da economia nacional.

Outro risco que deve ser mitigado antes da Privatização é o que poderá acontecer caso alguns dos gigantes do mercado resolver entrar na disputa para compra, esta empresa terá em suas mãos um poder extremo em um primeiro momento, podendo usar isto em seu favor , dificultando não apenas o crescimento dos demais players, como também a eventual chegada de novos concorrentes, impondo uma barreira de entrada que não existe hoje.

Correios privatização e e-commerce

É importante lembrar que a privatização dos Correios não necessariamente implica na sua venda, assim como aconteceu com o Banco do Brasil, existe a possibilidade da criação de um modelo parecido, ou seja, uma parceria público-privada na qual há um modelo de gestão mista em que o governo continua com parte da empresa, porém toda a operacionalização e gerenciamento fica a cargo de uma iniciativa privada.

“Impulsionado pelo e-commerce, o mercado de encomendas teve grande avanço a partir de 2015, crescendo 15% entre 2015 e 2019. Neste mesmo período, porém, os Correios tiveram uma taxa de crescimento de 12% e, por este motivo, foi registrada queda no marketshare da empresa, comprometendo ainda mais a saúde financeira da operação (economia de escala). Ainda, o ticket médio vem reduzindo ou crescendo abaixo da inflação”, informou o governo na matéria dada ao Estadão.

De acordo com dados da ABCOMM, 80% das vendas online estão concentradas em 20% dos municípios brasileiros. com a privatização, é esperado uma entrega mais rápida e de menor custo ao consumidor, já que as empresas privadas costumam investir mais em tecnologia e automação. Enquanto para manter a autossuficiência  e capacidade de investimentos futuros, seriam necessários, segundo o governo, investimentos da ordem de R$ 2 bilhões ao ano.

Destrinchando o futuro dos Correios e os impactos para o sistema logístico brasileiro

Uma possibilidade bastante viável é o desmembramento dos Correios Entrega (que é a parte que lida com os serviços logísticos usados pelos e-commerces) do restante da empresa ( que continuaria entregando as partes que são de interesse público e segurança nacional). Dessa forma, não seria necessário uma mudança na Constituição Brasileira e permitiria uma aceleração no processo de privatização. Afinal, entregaria à iniciativa privada o módulo da estatal de maior interesse.

Privatizar os Correios pode ajudar a diminuir os prazos de entrega e a incidência de erros nas entregas, contudo, é necessário garantir que não seja criado um oligopólio no setor assim como foi feito com as linhas de telefonia no Brasil. Pois dessa forma, não haveria uma competição que obrigasse as empresas a reduzirem os preços e garantirem que o serviço seja melhorado.

Independente do modelo adotado, o governo não irá abandonar seus investimentos nos Correios, isso é um grande engano e falácia. A privatização significa somente a redução do valor investido, pois é necessário que o Estado continue financiando parte da operação logística, assim como é feito com as empresas de ônibus nas cidades, isso irá contribuir para que o serviço continue atendendo as regiões mais remotas em todo o Brasil, mesmo onde não existe lucro.

Caso você já faça vendas online, é importante que você já se prepare e pesquise soluções alternativas a estatal, para que não seja pego desprevenido nas possíveis alterações nos preços dos fretes (embora essa mudança não deva acontecer da noite pro dia). É fundamental estar atento às tendências do mercado e ter uma operação online de e-commerce com múltiplas integrações para não ser pego de surpresa por qualquer mudança operacional dos Correios.

No final, a privatização poderá trazer bons resultados para o mercado, mesmo porque existe uma grande tendência de que correspondências se tornem peças de museu em muito pouco tempo, entretanto o sucesso desta privatização está diretamente ligada às definições de transição para os próximos 5 anos, evitando que pequenas cidades fiquem privadas deste serviço e que o mercado não se torne refém de um único player. 

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Claudio Dias

Cláudio é Co-founder e CEO do Magis5 e possui vasta experiência em varejo e e-commerce. Agora, está construindo uma startup para revolucionar o ecossistema de e-commerce brasileiro com estratégias inovadoras e que mudam a vida de outros empreendedores.
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